terça-feira, 25 de dezembro de 2007


O sistema faz questão de nos manter fora da realidade nos iludindo com novelas, carnaval, futebol,etc.
Gostaria de saber que cultura é essa, que mensagem nos traz, será que as pessoas não vêem a realidade que esta diante de seus olhos.

Será que não percebem que estão sendo lobotomizadas para serem mantidas sob controle, para que pensem que a vida é só isso, vamos tentar ver por outro lado, porque todos reclamam,protestam,falam mal, mas tem medo de tomar uma atitude radical.

Quem vai nos libertar dessa escravidão virtual?

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

PSOL: Socialismo e Liberdade para Canoas!

O PT expulsou parlamentares que estavam votando no Congresso Nacional em desacordo com as políticas do Governo Lula. A Senadora Heloísa Helena, a Deputada Federal Luciana Genro e os Deputados Federais Babá e João Fontes foram expulsas e expulsos ao não renunciarem pelo que sempre lutaram, pela justiça social em nosso país. Surge o movimento pelo novo partido que dá origem ao Partido Socialismo e Liberdade.


Antes mesmo de conseguir realizar seu primeiro Congresso o PSOL passa por eleições nacionais, onde a ex-senadora Heloísa Helena alcança vitoriosamente o terceiro lugar nas eleições presidenciais e no Rio Grande do Sul e a Deputada Federal Luciana Genro é reeleita continuando a luta em seu mandato.


A experiência política dos parlamentares devem ser utilizadas para as lutas que enfrentaremos. O Partido deve agora voltar-se para os movimentos sociais, para os setores populares, característica fundamental de uma organização política de esquerda e socialista que no PSOL ainda está em construção devido à sua origem na institucionalidade do Parlamento. Um Partido construído a partir dos Núcleos de Base, democrático e de luta é o que precisamos para acabar com as mazelas que o capitalismo cria em nossa cidade.


A Frente de Esquerda possui apenas o PSOL como partido organizado na cidade. Sua tarefa será de liderar a construção de uma alternativa para o município na construção do socialismo. A de utilizar as eleições para organizar o povo para suas lutas contra a burguesia e seus representantes políticos, construir a consciência socialista e revolucionária do povo canoense e de utilizar prováveis mandatos e gestões para apresentar e realizar leis e políticas públicas que defendam os interesses do povo explorado e oprimido da cidade de Canoas.


Queremos um PSOL que trabalhe para o fim do domínio da burguesia e da exploração do povo, queremos um partido democrático, de núcleos e dos militantes, queremos um partido que construa a formação política de seus quadros, queremos um partido internacionalista, um partido antiburocrático, queremos um partido contra qualquer forma de opressão, um partido verdadeiramente ambientalista, ou seja, um partido ecossocialista, queremos um partido que se integre com os movimentos de bairro, com os movimentos populares, que esteja atento aos desmandos do poder público e que esteja sempre ao lado dos trabalhadores e das trabalhadoras no dia-a-dia, nas greves, nas reivindicações e lutas, que lute por uma Canoas verdadeiramente solidária, socialmente justa, ambientalmente sustentável e humanamente digna.

domingo, 9 de dezembro de 2007

Canoas tem Polícia, mas e Política, tem?


O policiamento em Canoas serve mais para proteger as mercadorias do que as pessoas. Não se faz segurança do povo, se faz segurança para os bens, para as propriedades e para os objetos voltados para o lucro. Mesmo assim podemos dizer que de Política, Canoas tem menos ainda. Pois é uma política que atende aos interesses das mesmas minorias, das mesmas elites, que organizaram Canoas como ela é. Onde para lucro capitalista tudo funciona direitinho e para os habitantes locais a vida é um verdadeiro caos. A militância de esquerda e dos movimentos sociais sempre foi bem “guardada” pela segurança pública, enquanto a população padece sem segurança em meio à violência urbana.


Desde o fim da Ditadura e o início do período histórico da Redemocratização no Brasil o crescimento da organização de forças sociais e políticas progressistas aconteceu em Canoas também. A constituição da Frente Popular, liderada pelo PT, e da CUT, liderada principalmente pelo Sindicato dos Metalúrgicos, fizeram de Canoas um dos municípios do Rio Grande do Sul onde Lula e Olívio nunca perdiam nas eleições. Mas, devido à cultura da cidade ser dividida e fragmentada, quando as eleições eram de nível municipal, a direita governista sempre ganhou devido principalmente ao poder econômico maior influenciando localmente. Ou seja, a nível estadual e nacional Canoas alinhava-se politicamente á esquerda, mas a nível municipal voltava para a direita novamente. A esquerda deste município nunca conseguiu unificar a população em torno de seu projeto, tendo ele tendo sido sempre de caráter majoritariamente reformista e revolucionário em alguns pontos. A direita também nunca conseguiu construir uma cidade com a população integrada, devido ao projeto econômico que o capitalismo definiu para a região, ao contrário, sempre se utilizou e ampliou esta divisão da população canoense em benefício próprio.


A pobreza e a miséria da população canoense sempre foi utilizada de forma oportunista e corrupta. As ruas que a prefeitura asfaltava transferiam quase todos os seus votos para a reeleição do prefeito em questão ou para quem ele apoiava e indicava o voto. O assistencialismo sempre foi utilizado na política pragmática e clientelista do “toma lá, dá cá” com shows e festas beneficientes, cortes de cabelo gratuitos, etc, principalmente nos últimos anos na Administração “Solidária” dos Governos Ronchetti. O paternalismo corrupto cresceu em Canoas ao ponto de decidir eleições quando a direita venceu várias vezes a Frente Popular e a esquerda com votos conseguidos a partir da distribuição ilegal de cestas básicas nos bairros pobres de periferia nas vésperas da eleição. A Administração Solidária do PSDB demonstrou apoiar-se no capitalismo em todas as suas ações de governo, assim como corrupta, sendo denunciado publicamente o primeiro escalão do governo municipal por desvios de dinheiro público e racismo. De forma truculenta e violenta há muitos anos a direita de Canoas age com ameaças de agressões físicas e ameaças de morte para com militantes de esquerda, militantes sociais e populares que ousam dirigir-se à órgãos municipais para reclamar dos desmandes da prefeitura em seus sucessivos governos. Uma “polícia política” informal.


Mesmo assim o governo da Administração Solidária deu uma “cara” nova e moderna à gestão municipal, como Canoas nunca teve, com slogans e tudo! Isso a deu ânimo e a diferenciou das gestões anteriores da direita conservadora que levava a administração municipal “com a barriga”. E o “show” do assistencialismo cumpre de forma clientelista a relação corrompida com a alienação geral da população assim como a pobreza do povo canoense se relaciona de forma oportunista com o abuso do poder econômico criando um vasto campo propício á continuidade do paternalismo político em nossa cidade nas próximas eleições municipais.

sábado, 8 de dezembro de 2007

Canoas é marginal: ao capital e à Capital


Assim como outras cidades da Grande Porto Alegre, como Esteio, Sapucaia, Nova Santa Rita, Cachoeirinha, Alvorada ou Viamão, Canoas foi construída à margem da Capital do Estado, não para beneficiar a população local, em geral pobre e despossuída, mas sim para facilitar o acúmulo de capital da burguesia local e, principalmente, das burguesias de Porto Alegre e das cidades de imigração alemã ao norte. Canoas, Esteio e Sapucaia se tornaram cidades oprimidas e colocadas à margem pela exploração destas burguesias regionais ao norte e ao sul. Assim como diz o grafite em um bairro da periferia de Esteio: “Quando morrer vou para o céu porque o inferno já é aqui.”. Um bairro tão de periferia quanto os bairros canoenses, que por alguns metros no mapa do município poderia fazer parte de nossa cidade, mas que nada mais tem de diferente porque a miséria e a pobreza são as mesmas.


Com uma população maior que a maioria destas cidades à margem da Capital, Canoas possui uma característica própria: seus habitantes sentem-se mais próximos ao bairro ou vila em que moram do que a cidade como um todo. Ser “de Esteio”, “de Cachoeirinha” ou “Viamão” é tão normal quanto ser “da Mathias”, “de Niterói” ou “do Guajú”. As facilidades do transporte de mercadorias que o capitalismo criou em nossa cidade tornou mais fácil passar pela cidade do que transitar dentro dela, dividindo a vida da população. Quem sai de seu bairro para ir ao centro da cidade diz que vai “à Canoas” assim como vai à Porto Alegre ou Sapucaia. Até porque a dificuldade para transportar-se até lá é a mesma e ás vezes mais difícil do que sair de Canoas.


A construção do Trensurb desde 1985 acelerou ainda mais este processo. As pessoas passaram inclusive a se identificar com a Estação de trem em que descem para sua casa. “Sou da São Luís”, “Sou da Fátima”, pois não há outra forma de viver, de estabelecer contato com as pessoas, de aparecer, ou seja, as pessoas passaram a se identificar com o instrumento de transporte que diariamente traz e leva, leva e traz, canoenses para serem explorados em seus empregos e trabalhos. As propagandas comerciais e os out-doors sim, têm lugar preferencial e reservado por toda a rodovia federal, de um lado ao outro de Canoas, com a poluição visual e territorial que afeta a vida dos habitantes locais, para se instalarem onde quiserem parecendo ser o que desejarem, afinal “propaganda é a alma do negócio”. E canoense, será que tem alma?


Uma cidade cortada, uma cidade abortada à força pelo capitalismo, uma cidade que ainda não se encontrou. Mas quase todos e todas se encontram nas estações de trem e paradas de ônibus. A cidade pulsa como o pêndulo de um relógio quando chega a hora do trabalho, multidões de canoenses acordam para sair de sua cidade e pegar carro, ônibus, trem, carona ou qualquer locomoção que te faça chegar ao trabalho. O Trensurb ali está como um dos maiores transportadores diário de mão-de-obra do Rio Grande do Sul. A força de trabalho canoense constrói tijolo a tijolo a riqueza da região, mas que não nos é devolvida. Bairros e vilas sem saneamento básico, sem postos de saúde, sem transporte de qualidade, sem regularização fundiária, fazem desta cidade um dormitório opressor e muito pouco tranqüilo.


A burguesia local e, principalmente, a burguesia porto-alegrense, precisa da mão-de-obra dos trabalhadores e das trabalhadoras canoenses para lucrar não só com a venda de suas mercadorias mas também com o arrocho do salário, garantido pela quantidade de desempregados e desempregadas que eles podem contar como reserva. São eles muitos de nossos parentes, amigos, amigas, vizinhos, vizinhas, conhecidos, conhecidas e inclusive nós mesmos, quando acordamos na cidade dormitório sem ter um emprego para ir. Uma cidade de trabalhadores e trabalhadoras informais, ambulantes, vendedores, vendedoras, camelôs, assaltantes e traficantes, que, de forma legal ou ilegal, mas com certeza precária, correm atrás do que o capitalismo lhes tirou ou nunca lhes deu: a sua dignidade.


Como se não ter comida, casa, saúde e emprego não fosse uma violência, o inconsciente coletivo das populações excluídas de nossa cidade responde da forma mais bárbara e violenta possível, em geral com o tráfico de drogas, com o roubo e a morte. O sistema, corrupto e capitalista, corrompe os canoenses e as canoenses, tornando a criminalidade e a marginalização uma forma mais fácil e acessível de obter condições materiais mínimas para a sobrevivência no dia-a-dia, mais fácil e rápido do que o estudo, a educação, o trabalho e a profissionalização. O sistema capitalista cria as condições materiais para a violência quando explora e empobrece grande parte da população, e cria as condições morais para a violência quando mendigos e crianças de rua olham na televisão muitos juízes, empresários e políticos corruptos roubarem o dinheiro do povo e nunca irem presos. Não é com o mesmo sorriso sarcástico que a sociedade fica quando Canoas faz presente seu “Exú” e responde à piada elitista e racista da “Mathiaca” com um alto índice de criminalidade e violência tornando este um dos municípios mais violentos do Estado.


Nos causa muita indignação: assistir a RBS transmitir a saída dos turistas de Porto Alegre “limpando os pés” e abastecendo seus carros em postos canoenses para irem em direção à elegante Serra Gaúcha enquanto nós não temos nem ônibus decente para poder transitar; ouvir o barulho de aviões que não podemos viajar; olhar tantos caminhões com tanta comida sendo transportada atravessando a cidade sem podermos direito nos alimentar; de enxergar a construção de prédios e bairros chiques enquanto vilas inteiras são criadas pelas “invasões” senão as pessoas não teriam onde morar; de chegar à noite e em Canoas não ter aonde ir, não ter o que fazer; viver em uma cidade onde não se incentiva nem se organiza a produção cultural; ver que nenhum governo municipal defende os moradores e as moradoras do município, compram votos de pessoas necessitadas ou alienadas para se reelegerem e só atendem aos interesses das elites ricas de toda a região.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Canoas na linha do trem do crescimento capitalista


Após passar pela divisão de terras das sesmarias em fazendas, sítios, chácaras, que serviam para muitos porto-alegrenses passarem as férias e os finais de semana, as linhas do primeiro trem de Maria Fumaça atravessam nossa cidade até São Leopoldo. Onde o trem parava, próximo à canoas aportadas usadas para o transporte local pelo banhados da Bacia do Rio dos Sinos, era a primeira estação desde a saída da capital da província de Rio Grande. Ali, o meio urbano do centro da futura cidade começa a crescer.


Após tornar-se um município independente passa a receber investimentos estratégicos para a Região Metropolitana, principalmente nas áreas de transporte (férreo, terrestre e aéreo) e combustíveis. Aumenta a divisão geográfica entre os que moram de um lado e do outro dos trilhos e passagens por onde são movidas as maiores riquezas do Rio Grande do Sul.


Indústrias instalam-se no município trazendo populações do interior. Canoas acompanha intensamente a mudança do Brasil de um país rural para um país urbano. O cercamento dos campos e a mecanização da agricultura leva populações inteiras a migrarem para as cidades próximas de grandes centros urbanos onde arrumar trabalho ou emprego seja menos difícil. Bairros operários e vilas de periferia vão sendo formadas. Riquezas passam por Canoas mas não ficam para o povo canoense. A vila pode inundar ou a água pode faltar, mas os trens, as rodovias e a pista aérea não podem estar interditados.


A “faixinha da base” era mais importante ser asfaltada do que as ruas onde nós moramos, assim como as ruas que davam acesso a muitas das principais indústrias. Asfalto para a BR-116 nunca faltou! Nem a construção de viadutos para o transporte rodoviário estadual e nacional.


Os canoenses e as canoenses que se ajeitem, se virem, para poder ir de um bairro ao outro de sua própria cidade tendo que passar por cima ou por baixo de viadutos sujos, cheios de fumaça e perigosos; fazendo contornos, dando retornos, subindo e descendo em passarelas distantes. Atravessar Canoas de bicicleta, hoje em dia, é mais fácil (apesar de ser perigoso!) do que de ônibus, pois tais linhas do transporte público nunca priorizaram a vida dos habitantes canoenses e sim o transporte das mercadorias pelo meio da cidade que dão lucro aos capitalistas e ás capitalistas desta cidade ou à burguesia estadual que se utiliza de nosso local de moradia para trafegar seus produtos prejudicando as condições de vida da população local.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Gilberto Maringone! Historiador do Psol Fala sobre o caso da Venezuela!!!

Derrota de Chávez em referendo é 'alerta', diz Gilberto Maringoni



Escrito por Mateus Alves
04-Dez-2007

Para comentar a derrota do governo venezuelano no plebiscito sobre as reformas constitucionais propostas por Hugo Chávez, o Correio da Cidadania conversa com o jornalista e historiador Gilberto Maringoni.

De acordo com Maringoni, autor do livro "A Venezuela que se inventa", o resultado das urnas na Venezuela é um alerta a Chávez para que haja uma reaproximação com setores moderados e um reparo nas insuficiências do processo de reformas iniciado com a chegada do presidente ao poder em 1999.

Correio da Cidadania: Qual você acredita ter sido o principal fator que levou Chávez à derrota no plebiscito sobre a reforma constitucional?

Gilberto Maringoni: Se olharmos os números, vemos que a oposição manteve a quantidade de votos conseguida nas eleições passadas. O que houve foi uma abstenção de quase metade do eleitorado; o surpreendente não foi a oposição ter ganho, mas sim o chavismo ter reduzido sua votação.

CC: Tamanha abstenção foi, então, a única causa da derrota? Por que tantos chavistas não compareceram às urnas?

GM: Segundo Chávez, essa foi a causa. O certo é que não foi a oposição quem ganhou, mas sim o governo quem perdeu. Claro que, ainda observando os números, houve uma vitória da oposição por uma pequena margem, mas não se pode ficar dizendo que "foi apenas por uma pequena margem" como maneira de amenizar a situação e resolver o problema.
Quando diz que a abstenção ganhou, Chávez passa um dado real, mas não diz qual é a causa disso. Ele não fala quais foram as razões que motivaram os seus apoiadores a não comparecer às urnas para aprovar a reforma constitucional, forçada por ele como se fosse uma espécie de plebiscito que o aprovasse.

Tais fatores são vários. Precisam ser procurados nas insuficiências de um processo que evoluiu bastante desde 1999, mas que ainda possui problemas. Como principais questões conjunturais, que aconteceram de um ano para cá, temos a certa "forçada de mão" que o governo e Chávez deram em alguns episódios.

O primeiro desses é a formação do PSUV, o Partido Socialista Unificado da Venezuela. É um partido criado de cima para baixo, que foi formado desta maneira pois não existem movimentos sociais autônomos na Venezuela. O partido tem 6 milhões de militantes, mas estes não compareceram às urnas – se o tivessem feito, as mudanças na Constituição teriam sido aprovadas. Há problemas na estruturação do partido e em sua participação no governo – Chávez diz que "quem está com ele está no PSUV".

O governo Chávez tem uma característica de não ter sido resultado de movimentos de massa, mas sim de um cansaço popular com o projeto neoliberal das décadas de 80 e 90 e da crise vivida no país que não resultou em um crescimento da mobilização popular.
Isso fez com que não houvesse movimentos autônomos. O que existe são iniciativas políticas populares tomadas pelo governo.

O grau de fragmentação da sociedade venezuelana resultante dos 40 anos de democracia do Pacto do Ponto Fijo, estabelecido em 1961, e da crise estrutural enfrentada no país durante os anos 1980 e 1990 criou uma sociedade com um potencial de rebeldia muito grande, mas de escassa organização.

CC: Desde que foi levado ao poder, em 1999, Chávez não foi capaz de aglutinar os descontentes no país?

GM: Ele conseguiu aglutinar de certa forma, mas se vemos organizações como a UNT, central sindical do país, trata-se de uma organização sem vida autônoma, sem muita expressão.
Isso faz com que as mobilizações no país sejam apenas de apoio a Chávez, como observamos durante o golpe de 2001 e em suas vitórias nas eleições.

CC: Quais outros motivos contribuíram para a ausência de chavistas nas urnas?

GM: As brigas que Chávez comprou, algumas delas bem difíceis, também contribuíram. Criticar a Igreja Católica, às vésperas do referendo, foi muito danoso à sua imagem; todos sabem que a Igreja venezuelana é golpista, conservadora, mas chamar os bispos na TV de "vagabundos" provoca sentimentos no povo que são complicados. Ele começou a brigar com aqueles que, toda semana, estão no púlpito falando diretamente com seus fiéis.

A não-renovação da RCTV - que embora em mérito Chávez tenha sido corretíssimo ao não permitir a continuação das transmissões pela emissora - foi uma decisão tomada de maneira pouco pedagógica para a população. O presidente tinha a prerrogativa legal para não renovar a concessão, mas não foi feito um grande debate nacional sobre a democratização das comunicações, não foi criado um método para tornar tal fato uma questão de formação política, que informasse à população o que é um monopólio, a razão pela qual não deveria ser renovada a concessão da RCTV e qual a razão pela qual a rede não poderia participar de um golpe de Estado e continuar impune.

Não sei se a melhor maneira deveria ter sido levar o caso à Justiça ou à Assembléia nacional, onde Chávez também ganharia por ter quase a totalidade das cadeiras. Fazer isso por um decreto é incômodo – como explicar para a população que ela não terá mais a sua novela? Além disso, a emissora colocada no ar é de muito baixa qualidade, é uma emissora oficial no pior sentido da palavra.

Essas batalhas foram complicadas. No caso da discussão com o rei da Espanha, Chávez estava certo, então não foi um problema. Porém, a briga com o presidente Álvaro Uribe, da Colômbia, veio em péssima hora; Chávez caiu em uma armadilha. De qualquer maneira, Uribe iria romper o diálogo com as FARCs, e o presidente venezuelano foi até condescendente demais ao levar a questão adiante. Uribe esperou para terminar o diálogo exatamente antes do referendo, procurando desgastar a imagem de Chávez.

Avaliações de colegas venezuelanos também dão conta de problemas internos do governo, de ineficiência de serviços públicos, questões administrativas. O fato é que essa derrota de Chávez não é o fim do mundo, mas sim um alerta. O presidente desfruta de uma popularidade igual a que tinha durante as últimas eleições, de algo em torno de 60%. O que aconteceu foi um desligamento dos setores moderados ou para o "não" ou para a abstenção.

Setores da intelectualidade que estavam com Chávez se abstiveram. Raúl Baduel, que faz parte de um setor chavista presente em várias situações nas quais o presidente precisou de apoio, resolveu puxar o freio de mão. É certo que havia divergências entre os dois, mas Baduel não é um opositor histórico, não é um golpista e não pode ser tratado como um traidor.

Há também um tratamento ruim dado pelo governo em relação ao movimento estudantil. O combate que se fez quando começaram as mobilizações foi falar que os estudantes eram "peões do império"; claro que havia manipulação, que havia estudantes filiados a partidos de direita, mas à massa que estava nas ruas não pode ser dado o mesmo tratamento que é dado aos dirigentes, pois têm um descontentamento difuso.

Além disso, a reforma constitucional foi mal conduzida, faltou debate. A proposta original de Chávez continha 35 itens a serem modificados, e a Assembléia Nacional agregou, desnecessariamente, outros 34. A proposta transformou-se em uma árvore de natal, complicada, e Chávez e a oposição forçaram que a consulta para a aprovação da reforma fosse um plebiscito sobre o próprio presidente.

Tais problemas, no entanto, não podem colocar em dúvida os aspectos positivos conquistados pelo governo na Venezuela. A própria direita está espantada com a situação, pois Chávez tem ainda cinco anos de governo pela frente e um poder de aglutinação imenso, sendo capaz de retificar todos os seus problemas para que não perca apoios importantes.

CC: Quais seriam esses aspectos positivos?

GM: Chávez tem feito um governo que, até aqui, mudou a face da América Latina. No essencial, o rumo do governo está correto, ao democratizar a sociedade, ampliar os poderes das camadas populares e da população indígena, reduzir a jornada de trabalho, acabar com a autonomia do Banco Central, proibir o latifúndio, fortalecer o Estado em seu caráter público, ao realizar as "missões" que serviram e servem de assistência a uma grande parcela da população venezuelana que sofria uma exclusão total.

O governo também colocou a questão social no centro da esfera de governo, algo que foi seguido por outros países na América Latina. Chávez mostrou também que é possível romper com o modelo neoliberal e distribuiu a riqueza do petróleo para a população, mesmo embora o Estado venezuelano ainda seja muito burocrático, muito corrompido, ineficiente.

A luta ideológica que faz também é de extrema ousadia. A Venezuela, um país pequeno, conseguir pautar as lutas na América Latina e servir de referência a outros países – não só Cuba, Bolívia e Equador, mas também a Argentina e o Brasil, por exemplo – é algo de extrema importância.

CC: A riqueza proveniente do petróleo torna tal tarefa mais fácil, não?

GM: Claro, com o barril de petróleo a 100 dólares, até você e eu faríamos a mesma coisa. Mas o fato de o petróleo estar valendo tanto se deu muito em função do próprio Chávez; é preciso lembrar que isso não aconteceu por mágica. Quando Hugo Chávez tomou posse, o custo do petróleo era de 9 dólares por barril, e a OPEP estava desarticulada. Em julho de 2000, o presidente convocou, em Caracas, uma reunião geral do cartel petrolífero, algo que não ocorria há mais de 30 anos; ali, a OPEP retomou a política de cotas, de restringir a produção para resguardar reservas e, assim, melhorar o preço de barganha.

Já no final de 2000, o petróleo estava a 22 dólares o barril. Houve, claro, um fator que estava além do controle de Chávez: o aumento brutal do consumo mundial, capitaneado pela China a partir de 2001.

CC: A questão da reeleição indefinida faz parte dos aspectos negativos da proposta de reforma constitucional?

GM: Isso não é um problema tão grande quanto a imprensa alardeia. É uma proposta dentro das regras democráticas, não é um golpe. A pauta da reeleição foi colocada na América Latina pela direita – Fernando Henrique Cardoso, que a critica, foi quem a iniciou no Brasil.
Há alguns regimes europeus atrasados, com reis, imperadores – muito mais atrasados que qualquer república de banana, pois mantêm uma dinastia com dinheiro público à toa –, onde primeiros-ministros ficam no poder enquanto têm apoio, como na Inglaterra. Chávez ficaria no poder enquanto tivesse apoio.

É importante dizer, também, que a Constituição brasileira, de 1988 para cá, sofreu mais de 50 mudanças votadas no Congresso – ou seja, reformas constitucionais qualificadas, feitas por governos neoliberais. Ninguém achou que isso era golpe, e foram feitas sem nenhuma consulta popular. As mudanças que Chávez tenta fazer foram levadas a um debate público, por meio de referendo. A direita precisa deixar de hipocrisia, pois ela nunca foi tão democrática quanto a Venezuela nos dias de hoje.

Como disse uma articulista da Folha de S. Paulo recentemente, Chávez, apesar da derrota nas urnas, ainda pode sair ganhando, pois o resultado da consulta prova que seu regime é democrático, que ele pode perder.

CC: As críticas da falta de democracia na Venezuela, então, são infundadas?

GM: O governo de Chávez é o melhor governo da América Latina, é extremamente avançado, e o presidente teve habilidade ao construir o seu governo.

Agora, trata-se de um governo muito pessoal. Se Chávez é assassinado, o processo venezuelano fica comprometido. Não se criou uma cultura chavista, mas sim uma cultura de agregados, de apoio popular difuso. Não existe um partido com um núcleo de elaboração política para o governo da Venezuela – aliás, a elaboração política e teórica do governo é muito pobre.

Hugo Chávez, porém, é um tático excepcional. Entre o que ele fez ao longo dos anos há coisas geniais. A maneira como dividiu a oposição na questão das telecomunicações ao fazer um acordo com Gustavo Cisneros é um ponto alto da tática política mundial histórica.

CC:Em face das estruturas políticas tradicionais que observamos em países em desenvolvimento, você acredita que lideranças carismáticas que flertam com o populismo são um dos caminhos possíveis para que se consigam mudanças?

GM: É errado dizer que Chávez flerta com o populismo; ele é, sim, um populista. Precisamos largar a teorização feita pela direita da ciência política e mesmo por pessoas de esquerda de que o populismo é um mal. O populismo não é uma escolha, é uma situação histórica dada.

No Brasil, durante os anos 30, época em que não havia uma cultura de instituições democráticas urbanas consolidadas e estávamos saindo da República Velha, do voto de bico de pena, o avanço que houve no país no campo econômico e a migração das pessoas do campo para a cidade não tinham nenhuma referência de convívio institucional. A referência era um líder carismático, Getúlio Vargas. Isso também aconteceu na Argentina e no México.

Na Venezuela, por conta da crise profunda vivida no final do século XX, as instituições existentes estavam virando fumaça. A única maneira existente de impedir que o país se auto-destruísse era a chegada ao poder de um líder carismático, populista. Não há nenhum problema nisso; existem, sim, componentes autoritários em um líder populista, mas, naquela situação, não havia alternativa.

Como não há movimento popular estruturado, uma das funções do líder populista foi cumprir o papel de solidificar essas pontas. Chávez é uma etapa histórica na construção de instituições democráticas sólidas, que espero que seja transitória.

É preciso tirar da cabeça que o populismo é uma coisa negativa. Mesmo chavistas dizem que o presidente não é populista, mas é sim. E isso não é uma coisa ruim. Quem diz que o populismo é ruim é a direita, até mesmo pelas características de fortalecer o lado popular da sociedade de um governo do tipo.

Um problema do qual lideranças populistas padecem é a sua incapacidade em organizar a sociedade. Isso faz com que não tenham substituto à altura. Para se manter no poder, tais líderes não podem ter competidores; na Venezuela é assim, não há substituto à altura de Chávez.

CC: Quais os rumos que você acredita que o governo de Chávez deverá tomar a partir de agora? Há mesmo essa possibilidade de o presidente sair fortalecido pois o resultado nas urnas reitera a democracia existente em seu governo?

GM: Inicialmente, o governo sairá enfraquecido. A direita, não só na Venezuela como também na Bolívia e no Equador, tentará se reanimar. Se o governo venezuelano conseguir resolver os seus problemas, reaglutinar suas bases, se reaproximar dos setores moderados que momentaneamente – espero – se afastaram de Chávez, pode se fortalecer, sim.

Chávez não deverá moderar os objetivos estratégicos do processo na Venezuela, mas sim aprimorar sua flexibilidade tática para conseguir conviver com diferenças internas. O país cresce a 10% ao ano, e é muito difícil Chávez cair com estes índices. Agora, se isso acontecer, será algo muito preocupante.

CC: Quais as diferenças principais entre o governo da Bolívia e o governo venezuelano?

GM: O governo de Evo Morales teve sua origem no movimento social, Morales era dirigente sindical, houve mobilizações impressionantes no país entre 2001 e 2004. Na Bolívia, diferentemente da Venezuela, existe uma mobilização popular – por isso a direita, lá, tem um grande problema. Não é um governo sem apoio.

CC: E quais as suas opiniões sobre as mudanças possíveis no Equador de Rafael Correa?

GM: Lá, temos um caso novo. Até agora, Correa venceu uma grande batalha ao conseguir convocar a Constituinte. O Equador tem problemas gravíssimos: não tem moeda própria, é um país pobre, que viveu intensas ebulições nos últimos anos. Elegeram um governo popular, que caiu e foi substituído por um governo de direita; agora, levaram outro presidente popular ao poder.

Parece-me, à distância, que a situação no país está tranqüila. Quando Rafael Correa for tocar em pontos nevrálgicos do sistema de dominação de classes, tudo pode se radicalizar; quando as propostas de reforma começarem a ser votadas, aí sim haverá enfrentamento.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Roberto Fisk! o Por que do Terror alienante e da luta pelo soberania nos paises islamicos!

História Viva - nov/2007

Artigos

edição 49 - Novembro 2007

Robert Fisk, o homem que ousou perguntar “por quê?”

Em entrevista exclusiva à História Viva, o correspondente do jornal inglês The Independent no Oriente Médio explica as raízes históricas da resistência islâmica que vê em Osama bin Laden uma inspiração contra o domínio das potências ocidentais

por Bruno Fiuza e Maíra Kubík Mano

Divulgação

Robert Fisk

Poucos ocidentais conhecem melhor o Oriente Médio do que o jornalista inglês Robert Fisk. Como correspondente internacional na região, entrevistou Osama bin Laden por três vezes e praticamente acompanhou o processo de formação da Al-Qaeda. Ao longo dos últimos 28 anos, o repórter foi testemunha ocular do processo histórico que levou a resistência dos povos árabes contra o domínio ocidental na região a transitar do nacionalismo dos anos 60 para o islamismo militante da década de 80. E ele até mesmo data esta virada: Fisk estava nas praias de Khalde, no Líbano, quando o Hezbollah realizou sua primeira ação armada contra tropas israelenses, em junho de 1982. Nesta entrevista, concedida à História Viva durante sua passagem pela Festa Literária Internacional de Parati, Fisk questiona o uso que os governos e a imprensa ocidental fazem da palavra “terrorismo” e explica as raízes históricas da emergência dos grupos armados islâmicos, que na sua opinião são uma resposta à incapacidade dos governos ocidentais de dialogar “com os verdadeiros representantes do povo daquela parte do mundo”.

Em primeiro lugar, como podemos definir terrorismo hoje?
“Terrorismo” hoje é uma palavra usada para eliminar toda a discussão a respeito dos motivos que levam os indivíduos a uma ação armada. Isso acontece, por exemplo, quando se analisa a questão do Oriente Médio sem discutir o papel dos Estados Unidos na região. É por isso que depois dos atentados de 11 de setembro de 2001 publiquei um artigo no qual afirmava que “a única pergunta que não podemos fazer é ‘por quê?’”, pois fazer essa pergunta quer dizer que talvez haja um motivo que tenha levado à realização do atentado. O discurso oficial afirma que é “porque eles são maus, odeiam a democracia, etc.”, mas 19 assassinos eram árabes. Logo, deve haver uma relação entre o que acontece no Ocidente e a nossa política para o Oriente Médio, certo? A palavra “terrorismo” serve hoje para excluir qualquer explicação racional ou contextualizaçã o histórica dos fatos. Seu uso se tornou uma espécie de droga, e tem dois objetivos: o primeiro é eliminar toda a discussão sobre um assunto, e o segundo é assustar pessoas comuns. Assustadas, essas pessoas passam então a aceitar que seu governo adote medidas que, em essência, não são nem de direita, mas sim, de certa maneira, ditatoriais, e certamente contra os direitos humanos. Com isso, os governos podem fazer o que quiserem: eliminar a Convenção de Genebra, rasgar as garantias do Conselho de Segurança da ONU, permitir tortura, prisões subterrâneas, assassinato de prisioneiros, Guantanamo, etc.

Do modo como você coloca, o terror é um assunto de Estado, então?
Eu não uso a palavra “terrorismo” nos meus artigos ou nos meus livros, a não ser entre aspas. Eu não a uso porque é uma palavra totalmente desacreditada, ela já não tem mais nenhum significado. É um dispositivo utilizado para assustar as pessoas, para fazer com que elas acreditem que o Islã é nosso inimigo ou para impor novas leis que permitem prender uma pessoa por 90 dias sem direito a advogado. Esta é a primeira vez que uma guerra foi declarada a um substantivo abstrato – a “Guerra contra o Terror”. O que é o “terror”? Pode ser qualquer coisa. Essa idéia toda de “terror”, do meu ponto de vista, é uma armadilha. Usar a palavra em um contexto sério é uma armadilha. Se eu vejo uma revista ou um jornal com a palavra “terror” na capa simplesmente não compro, é lixo.

O que de fato é a Al-Qaeda? Quais são suas raízes históricas?
Para entender a Al-Qaeda é preciso ler história. Um dos problemas é que nem os governos e nem os jornalistas escutam o que Osama bin Laden e a Al-Qaeda dizem nas gravações que divulgam. Bin Laden fala da Declaração de Balfour (um documento secreto do governo britânico de 1917 que definia o plano de divisão dos territórios do Império Otomano ao final da Primeira Guerra Mundial); do Acordo Sykes-Picot de 1916, no qual França e Inglaterra dividiram o Oriente Médio; e fala em especial do Tratado de Sèvres, que acabaria com o Império Otomano, o último califado islâmico, em 1922. Ele sempre se refere aos fundamentos históricos do colapso do islamismo árabe, da perda do último califado e das conseqüências da Primeira Guerra Mundial. O que Bin Laden fez, originalmente, foi expor todas estas humilhações históricas. Muitos dos envolvidos com a Al-Qaeda são pessoas com um alto grau de instrução acadêmica, que entendem de história árabe. Acrescente a isso a obsessão pessoal de Bin Laden com a chegada das tropas americanas ao golfo Pérsico em 1990, quando o rei Fahd preferiu a ajuda dos americanos, e não dos mujahedins que lutaram no Afeganistão, para enfrentar Saddam Hussein. Para Bin Laden, a chegada dos americanos às duas cidades sagradas do mundo árabe – Meca e Medina – e a crescente presença das forças ocidentais é uma repetição de 1099 (ano da chegada dos cavaleiros da Primeira Cruzada a Jerusalém).

Como a Al-Qaeda funciona? Como foi o processo que levou à sua formação?
A Al-Qaeda, é um fenômeno único. Não há registro de filiação, não existe uma associação constituída, não há um financiamento regular. No começo, Bin Laden surgiu como uma inspiração. Os líderes árabes não diziam aquilo que o povo pensava. Quem fazia isso era Saddam, e é por isso que as pessoas gostavam dele. De repente aparece Bin Laden, um árabe falando de uma caverna, como o profeta Muhammad, expressando o que as pessoas pensavam. Inicialmente, a estrutura que ele criou funcionava como uma espécie de ONG: da mesma forma que uma organização quando quer construir uma rede de saneamento em uma vila remota na África se dirige a um governo para pedir recursos, alguns homens procuravam Bin Laden e associados pedindo, por exemplo, 6 mil dólares e dois especialistas em explosivos para atacar um navio no porto de Aden. Bin Laden dizia sim ou não. É como uma espécie de ONG, mas você não vai a um “quartel-general da Al-Qaeda”, como o Washington Post e a Fox News sugeriam. Mas o ponto é que hoje Bin Laden é totalmente irrelevante. Não importa o que ele diz. Ele pode morrer amanhã, tanto faz. O único meio de desativar a Al-Qaeda é tentar levar justiça para o Oriente Médio, mas nós não queremos isso. Queremos impor nossa posição na região. Para isso teremos que continuar lutando contra a Al-Qaeda, e alguns de nossos líderes vêem essa perspectiva com bons olhos!

Qual a diferença entre a Al-Qaeda e os outros grupos armados que atuam no Líbano, na Síria e na Palestina?
A guerra no Líbano é uma guerra entre os Estados Unidos e o Irã. O representante dos EUA é Israel e os representantes do Irã são a Síria e o Hezbollah. Em todo o Oriente Médio você tem vários grupos que acreditam que todas as tentativas de libertação da região e reconstrução do mundo islâmico falharam. O nacionalismo falhou. Todos estes grupos podem atuar com a ajuda dos serviços secretos sírios, com dinheiro do Irã ou dinheiro de quem quer que seja. Agora nós temos esta estranha “instituição" chamada Al-Qaeda, que é uma organização difusa.

O fato de a Al-Qaeda ser uma organização que não se identifica com um país específico representa uma mudança em relação aos outros grupos armados da região? De uma perspectiva histórica, qual foi o ponto de virada a partir do qual a luta baseada no nacionalismo árabe passou a ser baseada no islamismo?
Foi no dia 6 de junho de 1982, durante a invasão de Beirute pelas tropas israelenses, porque ali o nacionalismo árabe falhou, e o Hezbollah nasceu. Eu vi o primeiro ataque do Hezbollah nas praias de Khalde em 1982 contra um tanque israelense. Estava na praia e vi um grupo de milicianos com bandanas na cabeça. Pensei comigo mesmo: “Quem são estas pessoas? Não são palestinos”. Este foi o início do Hezbollah. Posteriormente eles mesmos disseram: “Esta foi a fundação, você tem o crédito, você estava lá, viu”... e muitos deles não viram! O Hezbollah tem a sua própria história e me citam: “Robert Fisk estava na praia de Khalde, ele viu o primeiro ataque”. E vi mesmo, vi os israelenses fugindo.

Então foi este o ponto de virada?
Para mim foi quando Arafat disse “que venham os israelenses”. Os israelenses vieram, ele não estava preparado para enfrentá-los e no final teve de fugir. Por fim, aquela Beirute símbolo do nacionalismo árabe foi ocupada pelos israelenses. O líder da Jihad Islâmica em Beirute, então, declarou: “Resistência!”, e foi assim que a resistência islâmica começou, tornando-se uma inspiração também para os palestinos. O ano de 1982 foi decisivo. Foi a primeira vez que os árabes deixaram de ter medo. Com todos aqueles aviões bombardeando Beirute ocidental e a população sendo aconselhada a deixar a cidade, me lembro do dia em que o proprietário do imóvel onde eu morava chegou da praia com uma sacola cheia de peixes e disse: “Temos como viver, não precisamos sair da cidade, temos peixes!”. Aquele foi o começo. A partir daquele momento a resistência passou a ser islâmica. Há 30 anos todos os inimigos do Ocidente no Oriente Médio – OLP, FDLP, FPLP – eram movimentos de esquerda, pró-URSS. Hoje, todos eles – Talebãs, mujahedins, Hamas, Hezbollah, Jihad Islâmica – são islâmicos. Não há mais nacionalismo.

Foi uma transformação ideológica?
Sim, foi uma transformação ideológica, porque continuamos pressionando cada vez mais. Esmagamos o nacionalismo e, de repente... Oh! Surge um novo monstro, muito maior, mais terrível, chamado “Islã”, ou “terrorismo islâmico”, ou qualquer que seja o nome. Se em algum ponto nós tivéssemos ponderado “ok, temos de lidar com estas pessoas” talvez pudéssemos falar de justiça. Não de democracia, mas de justiça. Eles adoram democracia, querem alguns pacotes de direitos humanos comuns nas prateleiras de nossos supermercados ocidentais, mas a democracia que eles querem é de outro tipo. Querem se ver livres de nós, mas essa liberdade nós não vamos dar ao Oriente Médio. Por que estamos no Iraque? Por causa do petróleo. Se o produto nacional do Iraque fosse aspargo ou batata os exércitos dos Estados Unidos e da Inglaterra não estariam lá.

Essa mudança teve alguma relação com a queda da União Soviética?
Claro que sim, mas ela teria ocorrido de qualquer forma. Os laços dos grupos árabes com a União Soviética eram fortes mas apenas no plano político. Quando Arafat estava cercado, em Beirute, pediu a Brezhnev que aviões russos fizessem uma entrega de armas na cidade. Não recebeu uma arma sequer. Portanto, não era tão bom assim ser amigo da União Soviética. Em última instância não foi isso que levou à transformação da resistência, foi o fato de que nós mantivemos a pressão e não negociamos com os verdadeiros representantes do povo daquela parte do mundo, e agora temos representantes ainda menos desejáveis. O que virá em seguida?



PARA SABER MAIS

A grande guerra pela civilização – A conquista do Oriente Médio. Robert Fisk. Planeta, 2007

O Capitalismo que explora e oprime Canoas


O Capitalismo que explora e oprime Canoas

Quem vive a cidade de Canoas muitas vezes já pode ter ouvido falar, presenciado ou vivido histórias e situações como estas: “Canoense é do bairro... é da vila.”, “Tem pouco ônibus para pegar e muitos saem da cidade prá se divertir, prá viver, só volta pra dormir, em Canoas não tem muita coisa...”, “...canoense é brigão, é marginal, invade terrenos e casas, pode te roubar e mora junto aos locais mais violentos, onde mais dá assaltos, roubos, mortes e tráfico de drogas no Rio Grande do Sul.” “Já me disseram que se chegar no presídio central é só dizer que é de Canoas que já tá mais tranqüilo...”.

Já viveram ou ouviram falar sobre estas histórias? Não queremos taxar nem rotular ninguém, mas por que a vida de uma cidade é normalmente contada e lembrada através de fatos negativos, dificuldades da vida, violências, situações de risco humano, situações de risco social, etc?

Mas tudo isso não tem nada haver com quem mora nos prédios altos e chiques da Avenida Brasil no centro da cidade nem no Jardim do Lago. E quem é que mora nas outras dezenas de vilas e bairros? Quem é de Canoas? O que é ser canoense? Quem construiu esta cidade? Quem faz desta cidade o que ela é? Quem lucra com isso? Quem empobrece com isso? Quem oprime o povo canoense? Quem é oprimido e quem é oprimida em Canoas? Quem quer libertar o povo desta cidade?

domingo, 2 de dezembro de 2007

Babá fala sobre o que aconteceu no Pará! A agressão da menina L.

Violação aos direitos humanos no Pará:

A Responsabilidade da governadora petista Ana Júlia Carepa
No depoimento prestado ao Conselho Tutelar de Abaetetuba no dia 14/11 acompanhada de um agente prisional e do delegado Fernando Cunha, a adolescente L.A. B relatou o verdadeiro inferno que passou aos estar presa por 30 dias, com 20 homens em uma única cela. “Eles diziam ‘tu vai ficar com fome? ’ Aí eu ia com eles. O melhor dia é quinta-feira, porque as mulheres deles vêm, e aí eu fico livre”. Situação absurda como essa não é fato único no Pará. Depois que o caso foi denunciado, pelo menos mais três casos de mulheres na mesma situação, em menos de 48 horas, vieram à tona.

A mais grave foi de uma jovem de 25 anos, em Parauapebas, município administrado pelo PT que permaneceu em cárcere com 70 homens durante 45 dias; soma-se a essa situação a do município de São João de Pirabas onde a presa Vanilza Barros foi colocada em outubro desse ano, com seis homens numa cela após negociar fazer massagem nos pés do Delegado Local, Carlos Pereira. Na mesma delegacia ainda em outubro, Raimunda Silvia dos Santos, 28 anos, também foi encontrada na mesma situação.

Do inicio do ano até o mês de outubro, a Divisão de Crimes Contra a Integridade da Mulher recebeu 8.869 denuncias de mulheres vitimas de violência domestica ou sexual somente em Belém. No entanto, poucos casos foram apurados, o que demonstra a falta de responsabilidade e a monstruosa política de desrespeito aos Direitos Humanos por parte do Governo do Estado do Pará, cuja governadora é a petista Ana Júlia Carepa.

A declaração de Márcia Soares – Subsecretária Adjunta de Proteção dos Direitos da Criança e do Adolescente, ligada à Secretária dos Direitos Humanos da Presidência da República de que a “política de misturar homens e mulheres no Estado é recorrente” e de que “as pessoas ligadas aos direitos humanos vinham fazendo denuncias, mas sem repercussão alguma” é o reconhecimento de que nada mudou com o Governo do PT/PMDB em relação aos 12 anos dos corruptos e truculentos governos dos tucanos responsáveis pela chacina de El Dorado dos Carajás.

A Governadora Ana Julia, diga-se de passagem, apoiada por Jader Barbalho com longa folha corrida na justiça brasileira devido a desvio de dinheiro público, e que “tolerou” durante os anos em que governou o Estado a prática de trabalho escravo nas fazendas de correligionários, declarou a imprensa nacional que “infelizmente, casos de mulheres presas em celas com homens existe mesmo”. Portanto está certa a jornalista e cientista política Lúcia Hipólito ao afirmar que “se a governadora já tinha conhecimento do ilícito e não tomou providência para impedir que voltasse a acontecer, ela incorreu em crime de responsabilidade, que é mais do que suficientemente para servir de base para o pedido de impeachment.”.

A governadora petista, em recente nota publicada nos principais jornais do país afirma “que em nenhuma situação tolerará violações aos direitos humanos, sejam cometidos dentro ou fora de órgãos administrativos” . No entanto, esta afirmação não corresponde à realidade vivenciada no Estado. Que o digam os mais de 100 presos no processo de desocupação da Fazenda Forquilha ocupada por trabalhadores rurais no município de Santa Maria das Barreiras no Sul do Pará. No dia 19/11 sob o nome de uma operação denominada “Paz no Campo”, foram cometidos todo tipo de atropelos aos direitos humanos, como espancamentos, socos, pauladas, ripadas, chutes, afogamentos e tentativa de asfixia com saco plástico, tudo bem ao estilo do filme Tropa de Elite.
Esta ação foi denunciada pela Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH), Comissão Pastoral da Terra (CPT), Federação dos Trabalhadores na Agricultura (FETAGRI) e o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Redenção, sem que até agora nenhuma providência fosse tomada; ao contrário os que ainda continuam presos estão sendo denunciados em uma campanha difamatória oficial por formação de quadrilha.

A Governadora Ana Júlia não só desrespeita os direitos humanos: ela alimentou esse desrespeito quando ao assumir o governo criou a ROTAM, extinta PATAM (Policiamento Tático Metropolitano) denunciada pela Anistia Internacional como uma das polícias mais violentas do Brasil em sua responsabilidade por conter supostos “distúrbios sociais”. É a Rotam que tem reprimido as ocupações urbanas e a luta pelo direito a moradia na região metropolitana de Belém; as greves de servidores públicos, rodoviários e operários da Construção Civil. É a Rotam que tem fechado bairros inteiros de Belém, igualando cidadãos comuns e honestos a criminosos e a bandidos.

O Pará que lidera a macabra estatística nacional de assassinatos de trabalhadores rurais e trabalho escravo e vê crescer de forma alarmante, diga-se de passagem por falta de uma política séria de geração de emprego e renda, a prostituição infanto-juvenil e o trafico de mulheres, não pode continuar tratando seus problemas sociais com repressão e violações aos direitos humanos. “Garantir Tranqüilidade de todos e todas no campo e na cidade, com profundo respeito aos direitos humanos” como afirmou a Governadora em apressada visita ao Presidente Lula para solicitar verbas não pode ficar só no discurso ou na construção de alguma unidade penitenciária. É urgente organizar os setores democráticos da sociedade, os trabalhadores do campo e da cidade e suas entidades, os estudantes, os profissionais, os setores populares, os familiares das vítimas, para organizar uma poderosa mobilização social e exigir a investigação até as ultimas conseqüências assim como a punição dos responsáveis destas brutais violações aos direitos humanos.

Os problemas do Pará são parte e o reflexo dos problemas do país em que vivemos; o Governo do Pará é a cópia manchada de sangue da falta de compromisso com os de baixo e da traição promovida pelo PT ao chegar ao governo.

Babá – é ex. Deputado Federal e membro da Executiva Nacional do PSOL.
Douglas Diniz – Secretário Geral do PSOL Pará